quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Doping Genético: O novo vilão das competições esportivas

Ultrapassar barreiras. Está aí a essência das competições esportivas. A paixão pelo esporte e o gosto por assistir as provas são motivados pela incerteza do que está por vir durante a competição. Um exemplo foi a final do Mundial de Vôlei masculino de 2010, em que o mundo (me desculpem a generalização) parou para assistir Brasil e Cuba, duas potências mundiais na modalidade. No primeiro jogo entre as duas nações, Cuba levou a melhor, o que fez com que nós, brasileiros, ficássemos com o coração na mão e com a dúvida: será que o Brasil irá superá-los nesta partida? Sim, nós os superamos e garantimos nosso terceiro título.



Casos de Doping em Olimpíadas
Entretanto, o desejo de ganhar a qualquer custo afasta muitos competidores do trabalho contínuo de treinos e os aproximam da adesão de práticas anti-esportivas, como o doping. A competição de melhor performance entre os atletas está sujeita à irregularidades, que tiram a boa sensação da quebra de recordes. Por esse motivo, os avanços da ciência contribuíram criando métodos de identificação de doping, que acabaram por tirar a graça dos atletas “espertinhos”.


Estes desenvolvimentos científicos, porém, trouxeram um novo vilão olímpico: o Doping Genético. Comentado desde 2003, este método consiste em alterar os genes dos atletas, tornando-os mais aptos a determinadas modalidades. É claro que certos genes facilitam habilidades, que podem contribuir, ou não, na prática de determinados esportes. O caso da família Mäntyranta ilustra bem esta circunstância. O material genético de alguns de seus membros apresentava uma mutação natural raríssima, que lhes conferia uma grande produção de hemoglobina, responsável por uma maior resistência. Dessa forma, o esquiador finlandês, Eero Mäntyranta apresentou, na década de 60, resultados assustadoramente superiores nas provas de esqui de longa distância. 

Não se deve confundir Terapia Gênica com Doping Genético. A terapia é um método ainda estudado que possivelmente servirá para auxiliar na cura de lesões físicas de um atleta, já a segunda prática, segundo a WADA (Agência Mundial Anti-Doping), é “o uso não terapêutico de células, genes, elementos genéticos ou da modulação da expressão de genes, com a capacidade de melhorar o desempenho atlético”, que está em detrimento com a ética esportiva.
Fígura 4 "-anticorpos específicos para istimulate ou inibir a expressão gênica;-modificação seletiva de uma célula, um gene ou a modulação de um receptor;-regulamentação específica da expressão gênica após transferência gênica."
 No caso do Doping Genético, a introdução de um gene, nas cromátides irmãs (ver figura n° 4) através de um vírus modificado, tem a capacidade de produzir uma proteína funcional que não sofra oscilações. Desse modo, a proteína funciona de forma mais constante e equilibrada, aumentando o potencial dos atletas. Alguns exemplos de genes utilizados são o IGF-1 que seria responsável por aumentar a massa muscular localmente, a miostatina que dobraria a musculatura sem um mínimo de esforço (esses dois para atletas de força e potência), a EPO que aumentaria a concentração de hemácias beneficiando atletas de longa duração e ainda o gene codificador da endorfina que foi apresentado como estratégico por aumentar a capacidade de suportar a dor, permitindo treinos e competições ainda mais intensos.
Não se pode saber ao certo como uma pessoa saudável responderia a este método. Entretanto, algumas das preocupações da terapia gênica podem ser supostas ao doping genético. Uma das principais é a utilização do vírus como vetor para a introdução do novo gene. Apesar dos rigorosos controles em todas as etapas de preparação dos vírus geneticamente modificados, existe o risco de o vírus provocar respostas inflamatórias no paciente. A chance de o gene ser introduzido erroneamente em células germinativas, apesar de muito baixa, deve também ser considerada como um risco inerente ao procedimento. Outro problema relacionado ao vetor viral é a capacidade de mutação e replicação que ele poderia ter, especialmente se houver falhas em sua preparação, o que pode ser comum em laboratórios "clandestinos". Além disso, a falta de controle sobre a expressão do gene inserido pode representar um risco da terapia, sendo que alguns genes podem causar o aumento da viscosidade sanguínea ou o aumento da chance de surgimento de tumores (benignos ou malignos). (Parágrafo baseado no artigo da Revista Brasileira de Medicina do Esporte, vol. 13 – n°5 – Niterói Sept./Oct. 2007)
Inicialmente, o doping genético não podia ser detectado. Entretanto, pelo aumento de sua ameaça a vida de muitos atletas saudáveis, os cientistas buscam métodos para a descoberta do uso dessa prática. Caso o gene e/ou seus produtos não atinjam a corrente sanguínea, somente por meio de biópsia poderá ser possível fazer um teste antidoping confiável, o que representa uma imensa barreira no controle do doping genético. Mas, se alcançar o sangue, um método de diferenciação de genes será a solução. Além disso, outro possível modo de identificação é a detecção de anticorpos dirigidos contra o vírus inserido como vetor.
 
Após toda discussão sobre o doping genético, fica a pergunta: onde esta a ética e a moral de alguns médicos que se sujeitaram a receber grandes quantias em troca da aplicação do doping genético em atletas saudáveis? Não se sabe ao certo se esta denúncia é realmente verdade, mas houve suspeitas de que um hospital chinês colocou a vida de esportistas em risco antes das olimpíadas de Beijing, na China, oferecendo a modificação gênica em troca de 24 mil dólares. Além disso, fica outro debate: é justo competir contra indivíduos que possuem mutações genéticas naturais ou eles devem ser afastados do esporte? Ou na verdade, o que deve-se fazer é aceitar o doping genético?
Para finalizar, criei a seguinte hipótese e apresentei-a aos meus técnicos de volei e basquete: O seu time está na final de um importante campeonato, um dia antes do dia tão esperado, você, técnico, descobre que o seu melhor jogador, burlando as regras da Agência Internacional Anti-Doping, utilizou dos metodos acima questionados, o que você faria?
Os dois deram a mesma resposta: impediriam a participação do atleta no ultimo jogo e ele se responsabilizaria pelo que fez.

São elas que ganharão a medalha?

Artigos de apoio:
  • Doping Genético e Esporte; autores: Andréa Ramirez e Álvaro Ribeiro
  • Terapia gênica, doping genético e esporte: fundamentação e implicações para o futuro; retirado de: Revista Brasileira de Medicina do Esporte, vol. 13 – n°5 – Niterói Sept./Oct. 2007